Família detalha violência e tortura de PMs em Maceió; mulher diz que foi agredida a marteladas

O Cada Minuto teve acesso ao boletim de ocorrência feito pela mulher que foi vítima de agressão por parte de policiais militares na noite de ontem (27). O boletim também mostra que a mulher, junto com o companheiro, o cunhado e a esposa do cunhado foram torturados pelos militares.

Segundo consta no boletim, a polícia chegou na casa deles por volta das 17h e disseram que se eles não abrissem, eles derrubariam o portão. A esposa do cunhado da vítima abriu o portão, e eles entraram. 

“A esposa do meu marido pediu que o policial deixasse a porta aberta e o comandante bateu no rosto dela, chamando-a de rapariga”, disse a vítima em um trecho do BO. Ainda segundo ela, os supostos policiais pediram armas e drogas, mas o que eles acharam foi maconha em cima do guarda-roupa que era para consumo próprio do marido da vítima.

“Um dos policiais foi até a viatura e voltou com o martelo e começou a bater nas costas do meu marido. Ele disse que eu estava grávida, mas o militar disse que ia me matar e matar o filho que eu estava esperando afogado”, diz outro trecho do BO.

Com relação a suposta tortura, o boletim aponta que os policiais colocaram levaram algumas pessoas para quintal e trancaram os filhos do cunhado da vítima no quarto. “Eles estavam dando choques, torturando, e os meninos no quarto pedindo socorro”. No caso da mulher, ela disse que foi agredida a marteladas pelos PMs.

O que os supostos policiais queriam era um suspeito de tráfico chamado de Caio, que era conhecido da mulher. Foi a partir daí que eles pegaram o celular dela, marcaram um encontro com ele, levaram a vítima e o esposo na viatura, e prenderam Caio.

“Eles nos ameaçaram de morte, bateram na gente, e me chamavam de rapariga o tempo todo. Forjaram um flagrante para prender o Caio”, contou.

Por causa da situação, as advogadas da Associação Para Mulheres, Beatriz Gaia e Niedja Sena foram acionadas para o caso da mulher que foi agredida. “Elas trabalham com excelência e saíram da Central de Flagrantes de madrugada. A mulher está com medo de morrer e teve medo de voltar para casa”, disse a presidente da AME, Júlia Nunes.

Em nota, a Polícia Militar disse que “até o presente momento a corregedoria da instituição não recebeu nenhuma denúncia sobre este caso, e quando informada oficialmente tomará todas as medidas cabíveis que o caso requer, além disso, a ouvidoria da corporação encontra-se à disposição dos possíveis ofendidos e familiares para apresentação de denúncia em relação aos fatos apresentados”.

Também por meio de nota, a Associação AME informou que foi acionada pela suposta vítima relatando que na tarde de 27.07.2020 foi sequestrada, ameaçada e torturada por Policiais Militares, possuindo marcas físicas do ocorrido e apresentando provas materiais e testemunhais.

Para que os direitos da vítima fossem resguardados a AME encaminhou equipe jurídica formada pelas advogadas Niedja Fernanda de Souza Sena Lira e Beatriz Vieira Gaia Paraíso Gomes de Carvalho, acompanhadas pela estagiária Ana Beatriz Vasco Peixoto da Silva que formalizaram a denúncia e acompanharam à assistida ao IML.

A AME repudia qualquer tipo de violência, seja ela física, moral, psicológica, sexual e/ou patrimonial. Nossa missão é acolher vítimas, com objetivo principal de quebrar o ciclo da violência.

É de conhecimento de todos nossa consideração, estima e respeito à Polícia Militar de Alagoas que por inúmeras vezes salvou vidas de mulheres atuando em conjunto conosco.

Nosso repúdio e pedido de providências é quanto aos homens denunciados pela vítima, que se encontravam fardados e foram identificados como policiais militares. Assim, solicitamos posicionamento da Secretaria de Segurança Pública, bem como da Corregedoria da Polícia Militar. Clamamos que as autoridades competentes apurem os fatos e adotem as medidas judiciais cabíveis.

A associação AME permanecerá firme no exercício da sua função de luta das mulheres, contra todo o tipo de violência que estas possam sofrer e sempre buscará junto a verdade dos fatos, e junto aos órgãos competentes, bem como a aplicação da Justiça como punição a todos civis ou militares que violentarem uma mulher.

Fonte: www.cadaminuto.com.br